top of page

Inclusão tem que permear e transversalizar todas as propostas e práticas da escola

Processo deve visar à superação das barreiras que impedem o acesso dos alunos com deficiência ao currículo, o que exige capacitação docente, recursos pedagógicos adequados e um novo olhar para esses estudantes

 

Por Suely Melo de Castro Menezes

 

Precisamos pensar a inclusão como um conceito universal, um princípio de vida que deve envolver todas as pessoas em todos os setores, em toda a educação e em todas as modalidades de ensino. As pesquisas mostram que 15% da população mundial tem alguma deficiência. No Brasil, convivemos com aproximadamente 30 milhões de pessoas que apresentam deficiência em diferentes áreas e níveis.


O público da inclusão escolar não supera as barreiras do acesso à educação sem o apoio de uma rede de parceiros na escola, na família, na comunidade e na sociedade. E vale ressaltar que todas as pessoas têm direitos adquiridos por lei, que precisam sair do papel e ir para o chão da escola e para vida desses indivíduos.


Marcos na legislação brasileira

Mesmo considerando que desde a década de 1960 os direitos das pessoas com deficiência já estavam estabelecidos no Brasil, temos que lembrar dos avanços trazidos pela Constituição Federal de 1988, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 e pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI) de 2015. Essas legislações agregaram muita consistência normativa aos direitos das pessoas com deficiência, com ênfase principalmente na revisão de alguns conceitos.


Por exemplo, o artigo 27 da LBI, que define a educação como direito da pessoa com deficiência, assegura o sistema educacional inclusivo em todos os níveis e o aprendizado ao longo de toda a vida. Ou seja, alcançar o máximo de desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais.


Esse artigo também fala de características, interesses e necessidades de aprendizagem, tratando do respeito à diferença. Ele aponta que é possível propor trilhas diferenciadas, adequadas aos alunos com deficiência, autismo ou mesmo altas habilidades, que precisam de atendimento especializado. Esses são pontos relevantes da nossa lei e que mudam o entendimento que se tinha.


Anteriormente, a ideia era levar os alunos da educação especial na mesma trilha de todos os estudantes. Esse artigo mostra que não, que precisamos respeitar as potencialidades e o limite do aluno, até onde ele pode chegar.





Superação de barreiras

Outra questão que a LBI traz é o próprio conceito de pessoa com deficiência, como aquela que tem impedimento de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo, em interação com uma ou mais barreiras. Esse é outro aspecto importante, pois estabelece que as deficiências são reveladas pelas barreiras a serem superadas. Se a escola, a família e a sociedade apoiam os mecanismos de superação das dificuldades, o estudante pode superar as suas deficiências. Assim, a deficiência não é mais olhada como uma condição imutável. A deficiência não é dos estudantes; ela é do atendimento inadequado que eles recebem.


Nesse contexto, o atendimento educacional especializado surge como um novo jeito de lidar, acolher e compreender o processo de inclusão. E passa para a sociedade, a escola e a família a responsabilidade de apoiar esse aluno integralmente na superação de suas barreiras e dificuldades.


Os desafios da inclusão escolar

A legislação brasileira já assegura muitos direitos às pessoas com deficiência e ao público da educação especial, mas o processo de inclusão não acontece somente por força da lei.


A cultura da inclusão é um processo lento e exige um permanente exercício de aceitação, da forma mais íntegra, do aluno com deficiência como responsabilidade da escola, assim como os demais estudantes. Temos que incorporar que nossa obrigação é o atendimento do estudante visando a superação de suas barreiras, dos obstáculos que impedem o seu acesso ao currículo.


Para isso, precisamos ter professores e outros profissionais qualificados, com experiência para lidar com a deficiência, os seus limites e possibilidades. Temos que assegurar metodologias e recursos pedagógicos adequados às necessidades desses estudantes. Por exemplo, ter um espaço próprio para atender esses alunos além da sala de aula e garantir que a inclusão faça parte do projeto político pedagógico (PPP) da escola. E, principalmente, todos acreditarem no potencial da escola, dos professores e dos estudantes. A inclusão é um processo que vem de dentro para fora.


A escola tem, junto com toda a sua comunidade, que desenvolver a cultura da inclusão desde o momento que o aluno é matriculado. E, depois, ele precisa ser incluído, acolhido, avaliado, acompanhado e trabalhado nas suas superações.


Outro ponto importante é que a inclusão exige investimento. Assim como no início do ano fazemos a manutenção da infraestrutura da escola ou organizamos e compramos livros para a biblioteca, é preciso colocar a inclusão nessa agenda. E esse é um investimento permanente, pois há sempre novidades nessa área. Por exemplo, o uso da inteligência artificial para ajudar o professor no planejamento, de acordo com as facilidades ou dificuldades de cada aluno.


A falsa inclusão

Lamentavelmente, nosso sistema de ensino, público e privado, ainda não está conseguindo atender o aluno com deficiência adequadamente e prepará-lo para participar da sociedade de forma efetiva e inclusiva, exercendo o seu papel de cidadão.


O caminho a percorrer exige acesso à escola e ao currículo, mas principalmente participação em todas as atividades escolares. Isso para que o aluno tenha o sentimento de pertencimento à sua escola, ao seu espaço. Só assim poderemos esperar aprendizagens e bons resultados. Esse é o caminho da inclusão.


A política proposta hoje pelo governo brasileiro estabelece que todos os alunos sejam atendidos em escolas regulares, independentemente do nível de comprometimento. Essa medida foi importante porque gerou acesso e matrículas nas escolas, mas ela está desalinhada com a legislação em vigor, que permite o atendimento em instituições especializadas nos casos de deficiências mais severas. Há muitos estudantes que não recebem o atendimento ou o apoio necessários para a inclusão.


Esses alunos com deficiências mais severas estão matriculados, mas não estão incluídos, não são tratados como aprendentes. Eles estão sendo colocados em salas de aula comuns e está sendo negado a eles o direito a um atendimento mais especializado, que poderia  viabilizar de forma mais efetiva o seu acesso ao currículo.


A partir de progressões automáticas, eles acompanham suas turmas socialmente, mas não avançam, não aprendem a ler e a escrever e não percorrem o currículo como os demais alunos. Infelizmente, essa é uma pseudo-inclusão. É uma realidade presente no Brasil inteiro e em todas as redes, e precisamos lutar contra isso.


Inclusão no centro das discussões e das práticas

Enfim, incluir não é um movimento simples. E o que mais obstrui e impede o processo de inclusão não é a falta de lei ou de recursos, mas a atitude das pessoas. Uma escola inclusiva precisa ser feita por pessoas inclusivas, que devem ser trabalhadas e qualificadas para poder discutir e trazer o tema para o cotidiano da escola. Cada vez mais a inclusão tem que permear e transversalizar tudo aquilo que a escola pensa e faz.


Também precisamos de um novo olhar para os estudantes com deficiência. Nós temos que vê-los como aprendentes, como pessoas com a possibilidade real de aprender. Não na mesma velocidade, no mesmo ritmo e com a mesma metodologia que os outros, mas no seu tempo e com os métodos que possam ajudá-los a superar as suas barreiras para se desenvolverem cada vez mais.

 




Suely Melo de Castro Menezes, que atuou como conselheira Nacional de Educação (2016 a 2024) na Câmara de Educação Básica, vai participar do painel “As legislações em vigor: quais são as reais obrigações das instituições educacionais” no GEduc 2025.





 

O GEduc é o maior e principal Congresso de Gestão Educacional do país. Realizado pela HUMUS Educação, o evento reunirá mais de 70 palestrantes e 800 congressistas. Serão três dias - 26 a 28/03 - de imersão ao redor do tema central “A revolução da educação é hoje! Juntos para inovar e inspirar”. Garanta sua vaga: www.geducoficial.com.br

 
 
 

Comentários


PATROCÍNIO DIAMOND

International School.png

PATROCÍNIO SILVER

ISAAC.png
PEARSON (1).png
wizard.png

PATROCÍNIO DE SESSÃO

Edebe (1).png
MULTIVERSO DAS LETRAS.png
seven 25 (1).png

PARCEIRO DE CONTEÚDO

EDUCADOR 21.png

MÍDIA OFICIAL

revista superior.png
REVISTA EDUCACAO.png

ASSESSORIA DE IMPRENSA

mira (1).png

APLICATIVO OFICIAL

YAZO.png

O GEDUC APOIA

logo ela.png

APOIOS 

REALIZAÇÃO

colorido.png
logo-branco-25.png
26 a 28 de março 2025
branco.png

PRO MAGNO Centro de Eventos
Av. Pfa. Ida Kolb, 513 - Jardim das Laranjeiras, São Paulo - SP

  • Grey Instagram Icon

Copyright © 2022. All rights reserved.

bottom of page