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Gestão de Instituição de Ensino Superior Privado: um desafio na pandemia do COVID 19 - Parte I

RESUMO


A gestão de uma Instituição de Ensino Superior privado é um desafio permanente e com o novo cenário que lhes foi apresentado, de forma rápida, sem planejamento, com a pandemia da COVID19, teve que tomar providências necessárias para adequar-se à nova realidade. E assim atender, de forma eficiente, a educação e a continuidade de suas atividades, da prestação de seus serviços, buscando estratégias como as aulas remotas, como alternativas para manter os alunos em atividade. A Educação, de modo geral, não pode parar, sua importância para o desenvolvimento econômico e social do País é fundamental, sendo que a demanda do ensino superior é crescente tanto na modalidade presencial quanto à distância. Essa mudança repentina para o ambiente remoto suscita a reflexão de que a educação é essencial em qualquer modalidade com o uso das tecnologias. Assim, a proposta desse estudo é compreender como ocorreu o processo de transição das aulas presenciais para o Ensino a Distância Remoto, identificando oportunidades, compreendendo o processo e seus desafios da gestão dessas instituições, optando-se pelo estudo de caso. A reflexão abordará outros desafios que a pandemia do novo corona vírus vem trazendo à gestão, ao trabalho docente e a falta de infraestrutura física dos alunos sem acesso a equipamentos para assistir as aulas remotas. A pandemia no Brasil ainda não está sob controle e as medidas de isolamento social mostram-se eficazes, por isso as IES precisarão planejar-se para levar adiante o ensino remoto a distância, aproveitar a oportunidade para fortalecer suas práticas baseadas nas ferramentas tecnológicas e os ambientes híbridos.


Palavras-chave: Gestão em Instituições de Ensino Superior. Ensino a distância. Atividade remota. Trabalho docente.


1 Introdução


Para muitos jovens alcançar uma carreira de sucesso passa pela formação educacional, tornando o nível superior muito significante e atrativo. Atualmente, cada vez mais acessível, o Ensino Superior pode ser encontrado em modalidades presencial, semipresencial e a distância. A realidade da Educação Superior Brasileira aponta para uma alavancagem no ensino a distância tanto na Instituição de Ensino Superior – IES quanto em empresas, com foco na profissionalização, treinamento e desenvolvimento da educação (Oliveira, Giannetti, Agostinho, & Almeida, 2018).

No entanto, a tendência de crescimento do ensino a distância se contrapõe, também, pela elevada taxa de evasão comparativamente à realidade do ensino presencial (INEP, 2018). Diante disso, políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do ensino a distância devem ser estabelecidas de forma a atender a demanda pedagógica, como a inclusão de recursos tecnológicos atendendo às necessidades dos usuários da comunidade acadêmica (Aktaruzzaman & Plunkett, 2016).

Nesse contexto educacional, o ensino-aprendizagem na modalidade presencial deve sofrer grandes modificações com as novas tecnologias para a mediação do ensino, ampliando seus espaços e se fortalecendo a cada dia (Leontyeva, 2018). Para Papageorgiou e Halabi (2014), a mediação da tecnologia torna mais acessível as trocas de informações e experiências de qualquer lugar.

Um grande número de estudos sobre o e-learning foi publicado, examinando em essência tendências tecnológicas, metodologias educacionais, desafios e oportunidades, etapas do aprendizado, suporte técnico ao aluno, percepções dos professores, sustentabilidade financeira e ambiental, entre outros assuntos (Asamoah, 2019; Habibi, Razak, Yusop, Mukminin, & Yaqin, 2020; Huang, Han, Li, Jong, & Tsai, 2019; Lopez-Catalane, & Bañuls, 2017; Oliveira, Giannetti, Agostinho, & Almeida, 2018; Pincus, Stout, Sorensen, Stocks, & Lawson, 2017; Toufaily, Zalan, & Lee, 2018). Todavia, o exame dessas questões de forma sistêmica e holística, compreendendo conjuntamente os vários atores da IES denota uma lacuna na literatura. Cabe ressaltar que a análise sistêmica proporciona uma visão ampla da necessidade de mudanças social e crítica em relação ao ensino (Boyce, Greer, Blair, & Davids, 2012). Até o momento, pesquisas têm se limitado a investigações isoladas sobre os aspectos relacionados ao ensino a distância propriamente dito, esquecendo-se dos fatores atrelados à transição do ensino. Outras investigações se concentram em Universidades e IES gigantes no setor (Asamoah, 2019; Pincus, Stout, Sorensen, Stocks, & Lawson, 2017; Habibi, Razak, Yusop, Mukminin, & Yaqin, 2020).

A proposta desse artigo é abordar o assunto por meio de uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa e exploratória com o objetivo de compreender como ocorreu o processo de transição das aulas presenciais para o Ensino a Distância Remoto, identificando oportunidades, compreendendo o processo e os desafios da gestão dessas instituições (Apostolou, Dorminey, Hassell, & Hickey, 2019), optando-se pela seleção de estudos de caso como via de estudo, buscando assim compreender o papel e as percepções da comunidade acadêmica e as dificuldades.

A gestão de uma IES privada é um desafio permanente e com o novo cenário que se apresentou, rápido e sem planejamento, com a pandemia da COVID19, esta teve que tomar providências para adequar-se à nova realidade. E assim atender, de forma eficiente, a educação e a continuidade de suas atividades, prestação de seus serviços e, buscando estratégias como as aulas remotas como alternativas para manter os alunos em atividades. Aproveitar a oportunidade de mudança para fortalecer o monitoramento de dados, documentação e práticas baseadas em evidências dos serviços de base tecnológica e programas que são oferecidos aos alunos, como fala Toquero (2020). O que se respalda na legislação citada por Joye, Moreira e Rocha (2020, p. 9):


O Decreto Lei n.º 9.057/2017 também ampliou a EaD para todas as modalidades, apontado situações emergenciais no qual a mesma é permitida na educação básica. Também possibilitou a oferta de cursos no exterior (Art. 5º), viabilizando a realização de atividades presenciais previstas no Projeto Pedagógico do Curso fora dos polos de EaD (Art. 4º), concedendo maior autonomia aos Institutos de Educação Superior (IES) para a criação de cursos sem o credenciamento para cursos presenciais, podendo ofertar cursos exclusivamente por EaD (Art. 11º).


Essa mudança repentina para o ambiente remoto suscita a reflexão de que a educação é essencial em qualquer modalidade com o uso das tecnologias e a legislação vigente no Brasil possibilita ações por parte das IES. Entende-se que a gestão educacional, junto ao corpo docente, pesquisadores e demais profissionais que atuam no ensino superior precisam se envolver e fortalecer os esforços de pesquisa, avaliação e planejamento para aumentar as práticas que incidem na melhoria da aprendizagem de seus alunos via ensino a distância sucedida (Toquero, 2020).


2 Referencial Teórico


2.1 Relação Tecnologia e Ensino a Distância


A relação tecnologia e ensino a muito vem sendo pesquisada, estudos que abordam as tecnologias aplicadas à educação, a relação tecnologias e professores, tecnologias e alunos, no ensino-aprendizagem. Já em relação ao ensino a distância, Silva, Melo e Muylder (2015, p. 204) afirmam que este “[...] é uma modalidade de ensino que vem alcançando maior espaço nas instituições de ensino superior (IES) e no mercado educacional nos últimos anos”. Nesse contexto, as tecnologias digitais oferecem a oportunidade de preparar os alunos para carreiras do século XXI e de criar novos modelos financeiros para o ensino superior (Pincus, Stout, Sorensen, Stocks, & Lawson, 2017).

Em pesquisa realizada com alunos concluintes do ensino médio, foi observado que experiências exitosas em ambientes virtuais despertam interesse do aluno pelo ensino a distância. Ao mesmo tempo em que chamam a atenção para a importância da qualidade da relação na tríade professor, aluno e instalações tecnológicas ofertadas pela IES (Leontyeva, 2018).

No Cazaquistão, ao estudar o avanço da educação mediante a utilização de tecnologias no e-learning, Nurmukhametov, Temirova e Bekzhanova (2015) mostraram características de humanização, redução de distâncias e desigualdade social. O estudo realizado mostra que em um país de grande extensão territorial e baixa densidade populacional, a introdução do ensino a distância possibilitou que a população que vive em vilas e cidades longe dos grandes centros distritais e regionais tivesse acesso à educação, incluindo neste processo pessoas com deficiência.

As tendências atuais da educação a distância levantadas em um estudo comparativo entre o Canadá e na Índia apontam que a utilização das tecnologias associadas ao EAD permite alcançar públicos excluídos do ensino tradicional. Logo, a ampliação dessa modalidade de ensino pode estar relacionada ao maior atendimento às demandas por educação em países como a Índia, submetendo as instituições à necessidade de revisão das políticas e investimentos em educação (Singh & Paliwal, 2012).

De acordo com Signh e Paliwal (2012), a EAD tem um papel primordial na inclusão de mais pessoas na sociedade sapiente. Ressaltando, dessa forma, seu papel de democratizar a educação, de fornecer oportunidades de aprendizagem e acesso fácil à educação a diferentes setores da sociedade (Singh & Paliwal, 2012). Nesta perspectiva, Abachi e Muhammad (2014) discutem o impacto do m-learning, a tecnologia de ensino móvel, uma vez que os aparelhos de celular são cada vez mais acessíveis. Como resultado do estudo, observou-se que tanto professores quanto alunos são favoráveis a sua utilização, entretanto, ainda fazem ressalvas quanto à segurança.

De sorte que o ensino a distância somente é possível devido ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de tecnologias. Para Fernandes, Henn e Kist (2020, p. 18), as tecnologias da informação e da comunicação “[...] não devem estar dissociadas da relação entre alunos, professores e contextos nãos quais vivem. Estas necessitam auxiliar os participantes dos cursos a refletirem sobre a construção de seu conhecimento e do contexto em que vivem”. Por isso, estudar a relação do ensino, as tecnologias e a interação entre professores e alunos, assim como a escolha da tecnologia mais apropriada para cada realidade de ensino, é fundamental para o processo de geração de conhecimento.

Assim, os dispositivos e ferramentas tecnológicas, design de programas, aplicativos são e serão necessárias e significativas para uma aula online bem sucedida (Toquero, 2020).


2.2 Desafios e oportunidades do ensino a distância


Como estratégia para captar candidatos, o ensino a distância está despertando entusiasmo e oportunidade de aprendizado. A crescente necessidade de acompanhar as tendências impostas pela globalização e inovação tecnológica tem direcionado o ensino contábil em busca de um modelo mais eficiente (Pincus, Stout, Sorensen, Stocks, & Lawson, 2017). Diante desse contexto, a criação de ambiente híbrido, expansão de cursos online, além de novos ensaios de ensino-aprendizagem tem permitido um desenvolvimento educacional permanente das IES. Um ensino híbrido que “[...] configura-se como uma combinação metodológica que impacta na ação no professor em situações de ensino e na ação dos estudantes em situações de aprendizagem” (Bacich, Tanzi Neto & Trevisani, 2015, p. 52).

Em um cenário tão promissor para o EAD, ainda há uma série de desafios a serem ultrapassados. Pesquisa cita a preferência dos alunos pelo ensino tradicional comparativamente ao ensino a distância, caracterizando a existência de uma espécie de pré-conceito ao método (Apostolou, Dorminey, Hassell, & Hickey, 2019). De modo antagônico, a mesma pesquisa cita entre as habilidades necessárias aos profissionais da área contábil a adaptação, propensão ao uso de novas tecnologias, além da capacidade crítica e analítica de dados, questões que em geral estão associadas às ferramentas e metodologias de ensino a distância.

Conhecer os fatores que impactam na geração de valor para as marcas de ensino a distância tem se mostrado um desafio a ser perseguido pelos gestores das IES. Toufaily, Zalan e Lee (2018) discorrem sobre essa temática na perspectiva dos alunos e apontam que a construção do valor de cursos EAD ocorre em três etapas distintas, que foram mapeadas como antes, durante e após o curso. No momento de escolha da instituição, tradicionalmente observa-se o baixo custo, flexibilidade, conveniência, mas também a habilitação dos professores e da instituição para o EAD. Durante a experiência com o curso online, o aluno tende a considerar fatores atrelados à ferramenta tecnológica como facilidade de acesso, manuseio e suporte técnico. Na etapa pós curso, são vislumbradas as oportunidades e aceitação do mercado para os certificados da IES.

Do ponto de vista da área de gestão das IES, um ganho adicional do ensino a distância pode ser observado quanto aos menores custos com infraestrutura física. Oliveira, Giannetti, Agostinho e Almeida (2018) analisam comparativamente, a quantidade de salas de aula necessárias entre as modalidades tradicional e EAD, concluindo que os custos de construção e manutenção atrelados ao ensino padrão são superiores. De sorte que, o e-learning pode ser considerado um importante fator de tomada de decisão quando o foco tem sido a sustentabilidade financeira e ambiental. Por isso, como aponta Leontyeva (2018), no ensino superior, a educação a distância por meio dos cursos e-learning vem se tornando a modalidade de aprendizagem mais relevante e demandada na última década.

Espelhando o horizonte dos professores, Habibi, Razak, Yusop, Mukminin e Yaqin (2020) estudam a implementação de Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC no ensino apresentando, a partir de estudo de caso múltiplo em três universidades (Indonésia), itens significantes quanto ao seu sucesso e insucesso. Positivamente, entre os resultados levantados pela pesquisa dos autores, destacam-se a abertura para aprender, rede de intercâmbio entre educadores, conhecimento e habilidade prévios em tecnologias, para tanto, seria necessário introduzir o ensino baseado nas tecnologias em programas de formação de professores, o que resultaria em melhoria no ensino e na promoção da aprendizagem do aluno; assim como estes também precisam ter uma atuação proativa de liderança na integração das mesmas nas IES. Em contraponto ao sucesso, por sua vez, foram observados os óbices temporais reduzidos da carga horária, planejamento e implementação de TIC, infraestrutura e suporte técnico inadequados ou insuficientes, além da ausência de qualificação em tecnologias de ensino.

Profa. Mônica Maria Lima Fialho Alcantara é Membro e Presidente da Comissão Própria de Avaliação da UNIFSA e foi palestrante no X Encontro Nacional de CPAs & VII Encontro Nacional de PIs, que foi realizado pela HUMUS nos dias 14, 15 e 16 de setembro.

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